Grandes empresas familiares tendem a enfrentar um momento crítico quando se trata de processo sucessório. O desafio envolve estabelecer critérios e objetivos para dar continuidade aos negócios, onde o êxito tem a marca do perfil do fundador, que ao longo do tempo incorporou novas técnicas e recursos responsáveis pela melhora da administração da organização, além de um valioso patrimônio. Por essa razão, deve haver atenção a temas como a estrutura e funcionamento da governança corporativa da companhia, sua administração e dos aspectos patrimoniais.
Em negócios de controle familiar, podem ocorrer dois cenários antagônicos: de um lado, fundadores que transmitem a visão de terem construído a empresa para e pelos filhos e parentes; do outro, empresários que afastam seus familiares da empresa, seja para não misturar com as relações pessoais ou por preferirem que seus herdeiros e herdeiras busquem caminhos profissionais próprios. Sem uma discussão aberta sobre esses temas nessas situações, pode haver mais prejuízo do que ganhos nos ambientes familiar e empresarial.
Numa sucessão patrimonial, a partilha de bens patrimoniais pode ser um ponto sensível para a performance e o futuro desse tipo de negócio, e isso traz aprendizados importantes na empresa familiar. Herdar bens imóveis e financeiros propicia investir em planos pessoais, desvinculados dos negócios. Entretanto, uma herança como a participação em uma sociedade representa uma grande responsabilidade social, para com seus sócios, que podem ser seus familiares e demais públicos envolvidos com o negócio. Quaisquer desses cenários impactam direta ou indiretamente na companhia familiar.
Em qualquer postura assumida nos cenários elencados, cedo ou tarde a próxima geração se tornará sócia do negócio, com todos os direitos e deveres que esse papel traz. Além da liberdade e oportunidade de escolha dos caminhos profissionais que irão trilhar, os filhos precisam ter a consciência de estar preparados para atuar na condição de sócios de uma empresa.
Nesse contexto, a governança é uma ferramenta para auxiliar na formação dos futuros sócios tanto para assumirem a gestão e a valorização do patrimônio, permitindo a longevidade da empresa, quanto cuidar das relações familiares que continuarão, com ou sem negócio em conjunto.
Trabalhar na empresa da família pode ser muito positivo para um indivíduo, desde que os propósitos empresariais e a vocação e plano pessoal estejam em sintonia. Por outro lado, a escolha por outra carreira não deve ser fator de distanciamento e desconhecimento dos negócios familiares. Promover o entendimento e o equilíbrio entre as demandas pessoais, empresariais e familiares pode ser decisivo para o futuro das famílias e dos negócios.
Com: Luiz Marcatti.